segunda-feira, 21 de março de 2011

Futebol e Politica






Até a Revolução de 1930, que pôs abaixo o regime do café-com-leite no Brasil, a prática do futebol aconteceu à margem dos interesses políticos das elites e da massa popular. Enquanto os clubes que iam se formando a partir de colônias de imigrantes ou setores abastados das elites urbanas procuravam fixar o futebol como esporte de brancos por excelência, nos subúrbios a massa negra e mestiça improvisava suas peladas com bolas de meia e traves de latas. Nessa época foram fundados alguns dos futuros grandes clubes brasileiros, vários deles inclusive voltados a outros esportes e que se dedicaram também ao futebol.
Nas décadas de 1930/40, Getúlio Vargas fez do trabalhismo a base de um regime populista, do rádio o instrumento da propaganda oficial e do futebol um símbolo do nacionalismo autoritário. Remonta àquele período a ascensão do futebol ao patamar de paixão popular. Não por acaso as festas oficiais costumavam acontecer no estádio de São Januário, do Vasco da Gama, na Capital Federal. A presença do ditador nas tribunas servia à perspectiva de ligação direta líder-massa, tão cara aos regimes autoritários da época. Realizada a primeira Copa do Mundo de Futebol, no Uruguai em 1930, abriam-se os rumos do esporte como meio de propaganda dos sucessos políticos e militares das nações envolvidas na expansão imperialista. Benito Mussolini alardeava aos quatro cantos as conquistas da squadra azzura, campeã das Copas de 1934 e 1938. Hitler procurava também expor ao mundo a propalada superioridade ariana por meio da vitrine dos esportes, aí incluído o futebol.
Em 1940, a cidade de São Paulo foi presenteada com o estádio do Pacaembu. No ano seguinte, o regime varguista criou o Conselho Nacional de Desportes (CND), pelo qual se destinaram verbas para o futebol, cada vez mais popular. Nem os traumas da II Guerra Mundial ou a queda de Getúlio, em 1945, desarmaram os preparativos para que o Brasil sediasse a Copa de 1950. A melhor demonstração da popularidade do futebol no país concretizava-se na construção do maior estádio do mundo, no Rio de Janeiro. Em 17 de junho de 1950, o meia Didi marcou o primeiro gol no Maracanã na partida entre as seleções paulista e carioca, vencida pelos paulistas por 3 × 1.
O Brasil fracassou na final da Copa de 1950, perdendo para o Uruguai por 2×1. E a consternação do desastre selou definitivamente o grau de paixão a que o futebol havia chegado no Brasil. Mesmo o novo fracasso na Copa de 1954 não arrefeceu os ânimos nacionais no apoio ao esporte que tão bem combinava com o ufanismo desenvolvimentista dos anos JK. E o povo brasileiro viu seus anseios saciados com a conquista da Copa de 1958 na Suécia. Juscelino Kubitschek, Brasília, a Bossa Nova e a Taça de Ouro fizeram a alegria de uma nação que se descobria nas cores do uniforme canarinho da seleção bi-campeã no Chile, em 1962. O populismo liberal e o nacionalismo artificial caminhavam juntos rumo à grave crise política que culminou no golpe de 1964 e na ditadura militar.

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